quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Não se mate

Carlos, sossegue,
o amor  é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,  depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe  o que será.
Inútil você resistir  ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
 reserve-se todo para  as bodas que ninguém sabe
quando virão,  se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,  rezas,  vitrolas,
santos que se persignam, .
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe  de quê, praquê.  
Entretanto você caminha  melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro  e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,  é sempre triste, meu filho,
Carlos,  mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013



Vai curtir tua vida garota, saia desse labirinto de dor. Olha, desenhe toda essa sua tristeza que você vem levando nos seus dias num papel e amasse, jogue fora. Pronto. Compra uma caixa de giz novinha e sai por aí, colorindo a tua vida. E o que estiver preto e branco, você tem que colorir. Colorir. Colo-Rir. Rir.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Poema Armado


Que o poema venha cantando
ao ritmo contagiante do batuque
um canto quente de força, coragem, afeto, união
Que o poema venha carregado de amarguras,
dores, mágoas, medos, feridas, fomes ...
Que o poema venha armado e metralhe a sangue-frio
palavras flamejantes de revoltas
palavras prenhes de serras e punhais ...
Que o poema venha alicerçado
e traga em suas bases palavras tijolantes,
pontos cimentantes, portas, chaves, tetos, muros
E construa solidamente uma fortaleza de fé
naqueles que engordam o exército dos desesperados
Para que nenhuma fera não mais galgue escadas à custa de necessidades iludidas ...
E nem mais se sustente com carne, suor e sangue dum povo emparedado e sugado nos engenhos da exploração!

(Poema Armado/ Oubi Inaê Kibuko - in Cadernos Negros)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ponto Histórico

Não é que eu
Seja racista...
Mas existem certas
Coisas
Que só os NEGROS
Entendem.
Existe um tipo de amor
Que só os NEGROS
Possuem,
Existe uma marca no Peito
Que só nos NEGROS
Se vê,
Existe um sol
Cansativo
Que só os NEGROS
Resistem.
Não é que eu
Seja racista...
Mas existe uma História
Que só os NEGROS
Sabem contar ...
Que poucos podem Entender.

(Ponto Histórico/Éle Semog - In: Cadernos Negros)